Após receber tapas, jovens foram escoltados para fora do parque sob xingamentos e ameaças. Corregedoria da PM investiga o caso
Um policial militar agrediu, na manhã deste domingo (18), um grupo de praticantes de BMX Freestyle, que é uma modalidade de ciclismo com manobras radicais, no Parque Marcos Veiga Jardim, ao lado do autódromo, em Goiânia. Os 15 jovens foram ao local para gravar imagens da pista e foram surpreendidos pelo PM que, ao perceber que estava sendo filmado, começou a dar tapas no rapaz que gravava toda a ação.
Um dos praticantes do esporte que estava no local, o mecânico Renato Araújo Guimarães, de 33 anos, disse ainda que os jovens foram escoltados para fora do parque sob xingamentos e ameaças. “Ele agrediu a gente com tapas e verbalmente, xingando a gente de vagabundo. Ele continuou insultando a gente e nos ameaçou, ele disse: ‘se vocês aparecerem aqui de novo, eu vou tratar vocês de outra maneira’“, relatou.
O grupo prestou queixa e a Corregedoria da Polícia Militar já apura o caso. Segundo o porta-voz da Polícia Militar de Goiás, tenente-coronel Ricardo Mendes, disse que todos os envolvidos já foram ouvidos e um procedimento administrativo será instaurado. “Esse não é procedimento padrão preconizado determinado pelo Comando Geral da Polícia Militar,” ressaltou.
Prática proibida
Renato, que pratica o esporte há 19 anos e que chegou até a competir fora do país com o BMX Freestyle, disse que o grupo estava no parque para gravar imagens da pista danificada. No local, o uso das pistas internas é limitada apenas para o skate, sendo proibida a utilização de patins, bicicletas e patinetes no espaço. A justificativa da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) é que o uso das bicicletas danifica a pista.
A versão da Agetop, entretanto, é contestada por Renato. Segundo ele, não há provas de que o uso de bicicletas na pista estrague o local. O mecânico conta que, assim que o parque foi inaugurado o grupo ficou um mês sem ir ao local. Depois, como não houve conversa, eles começaram a tentar frequentar o parque, mas sempre acabavam expulsos. Ontem, eles foram ao local gravar imagens que mostram que a pista já danificada, mesmo sem a utilização da bicicleta nesses três meses de existência do parque.
O mecânico relata que eles já tentaram falar com a Agetop, mas eles nem chegaram a ser recebidos. Em nota, o órgão ressalta que a pista de skate do parque foi construída especificamente para a prática desse esporte e que “insistir em praticar ciclismo na pista de skate é ir contra as normas e regras de utilização do Parque”.
O praticante de BMX ainda afirma que o grupo chegou a encaminhar um ofício com o parecer da confederação Brasileira de Esportes Radicais (CBER) que esclarece que a bicicleta é, na verdade, menos prejudicial à pista do que o skate. O documento compara o material das rodas, sendo mais duras no skate e mais suaves na bicicleta. As bikes ainda têm a vantagem de ter seus pneus mais macios e inflados com ar que distribuem melhor o peso. “Nós temos feito pesquisas durante vários anos em diversas pistas e não temos nenhuma evidência de que as bicicletas causem mais danos ou estragos que os skates ou patins”, afirma a entidade.
A CBER ainda se posiciona contrária a limitação de apenas uma prática esportiva nessas pistas. “Se o poder público deseja tornar a prática esportiva uma atividade de lazer para educar o jovem/adolescente como ferramenta de inclusão social e por diversas vezes de recuperação, pois em muitos locais é um excelente caminho para minimizar a violência e retirar das ruas possíveis infratores, está agindo de forma contrária ao proposto quando diz à população que aquela determinada pista pública é somente para a prática de uma única modalidade, excluindo diversas crianças, jovens e adolescentes”, diz o documento.
A Agetop ressalta que a prática do ciclismo é permitida na pista de competições e no anel superior do Autódromo. A nota não fala a respeito do BMX Freestyle, que é um esporte que, assim como o Agressive Inline (patins), exige obstáculos que simulem o ambiente urbano.
Por Mais Goiás