Mesmo com o dólar caro, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 531 milhões em outubro, uma alta de 87% em relação ao registrado no mesmo mês do ano passado, segundo o Banco Central. Foi o maior valor mensal desde o início da pandemia, refletindo, segundo o BC, o avanço da vacinação e a reabertura de fronteiras em muitos países, que fizeram muitas pessoas se sentirem mais seguras para viajar.
No entanto, as despesas dos turistas brasileiros estão longe do patamar pré-pandemia, quando chegaram ao nível de R$ 2 bilhões mensais. De janeiro a outubro deste ano, os gastos dos brasileiros fora do país alcançaram US$ 3,8 bilhões, com queda de 18% frente ao mesmo período de 2020 (US$ 4,7 bilhões). Foi o menor valor para o período desde 2004.
Segundo o BC, os gastos diminuíram por causa das restrições ao fluxo de voos e pessoas entre os países adotadas para combater o novo coronavírus. A desvalorização do real em relação ao dólar também contribuiu para a queda das despesas com viagens.
A pandemia modificou os planos de muitas pessoas. O estudante Bento Lomba, 23 anos, tinha viagem planejada com a família à Alemanha desde o início da pandemia. “A princípio, nós iríamos em julho de 2020, mas com as medidas sanitárias tivemos de adiar”, contou.
O embarque foi remarcado para janeiro de 2022, mas, com o real se desvalorizando cada vez mais em relação ao euro, o planejamento ficou mais modesto. “É complicado porque fica difícil comprar uma moeda que está custando quase R$ 7. Os planos do que vamos fazer lá agora são bem mais limitados. Ficaríamos duas semanas na Alemanha, agora mudamos para cinco dias de estadia.”
Famílias ricas
O economista da FGV André Braz observou que a covid-19 afetou de maneira diferente as diversas classes sociais. “Durante a pandemia a parcela dos mais ricos, até juntou dinheiro. Imagine, uma família de classe média alta que não podia ir ao cinema, ao teatro. Os mesmos que mantinha seus filhos em escolas particulares e receberam desconto, devido à prática do ensino a distância. “Essa família juntou dinheiro, pois uma parte do seu orçamento era reservada para essas coisas que foram proibidas durante a pandemia”, disse Braz.
Mesmo com o dólar mais valorizado, o economista afirma que essas famílias conseguem gastar. “Essas pessoas estão colocando em dia essa agenda de viagens, mesmo com a quarta onda surgindo em alguns países. Porém construíram uma poupança e decidiram gastar”, afirmou.
Flexibilização
O epidemiologista e vice-coordenador da Sala de Situação de Saúde da UnB, Mauro Sanchez, avalia que a volta do fluxo internacional de brasileiros está relacionada com a queda de restrições da entrada de brasileiros. “A volta não é por uma melhora na renda. O brasileiro ficou muito tempo sem viajar, e, agora, com a flexibilização da entrada em uma série de países, as viagens voltaram a se tornar mais freqüentes.”
Por CB