As crianças enfrentam os traumas físicos e psicológicos causados pelo acidente. Três delas continuam com pinos no fêmur, locomovem-se em cadeira de rodas, dependem de cuidados constantes e do uso de medicamentos
Amigas inseparáveis, cinco meninas que, até então, compartilhavam a inocência — e três delas também os laços de família —, viveram o horror quando foram atropeladas, em 22 de maio, por um motorista alcoolizado, em Ceilândia Norte. De um momento para outro, acabaram por descobrir precocemente o que é lutar pela vida. Um mês após o pesadelo, mesmo diante dos traumas e sequelas ainda indefinidos, estão se saindo vitoriosas, com o apoio daqueles que as amam.
Para familiares e amigos, a volta das crianças é o resultado principalmente da fé. “Foi Deus. Não tenho dúvida de que foi Ele que permitiu que saíssem todas com vida. Havia muita gente em oração, em vários grupos da igreja, pela vida das cinco. Todo mundo pedindo para que ficassem bem”, conta Glória Cheila Pereira, 51, avó de Ester, Ana Júlia e Bruna. As duas últimas e ainda a amiga Sofia continuam com pinos no fêmur e se locomovem em cadeira de rodas. Dependem de cuidados constantes e do uso de medicamentos. “A Ana Júlia está estrábica depois do acidente e todas elas vão fazer acompanhamento com vários médicos. Mas todos os amigos estão ajudando. Ganhamos as cadeiras de rodas e de banho. De resto, estamos nos virando”, relata a avó, comovida, enquanto observa a alegria das netas em visita ao Instituto Abraçando Vidas, organização social no Sol Nascente, onde Ana Júlia pratica karatê.
Ana Júlia começou na arte marcial há quase um ano e retornou ao local pela primeira vez depois do acidente para rever os colegas e o professor. O espaço foi tomado pela emoção, enquanto os companheiros de turma a abraçavam e comemoravam seu retorno, com planos para o dia em que ela estará recuperada para voltar ao karatê. O professor Antônio Vieira da Silva fala que acredita ter sido um milagre. “Foi Graças a Deus que as vidas delas foram poupadas e voltaram para casa. Depois de praticamente um ano dando aula aqui, elas fazem parte da minha vida e é muito emocionante ver todas bem de novo”, disse.
Solidariedade
As famílias das cinco crianças atropeladas contam com o altruísmo dos amigos. A diarista Vilma Barbosa dos Santos, 52, é uma das pessoas que vem prestando apoio. “Enquanto a Ester estava internada, fiquei um tempo com ela no hospital. Agora, com todas em casa, a sensação é de alegria. A gente sabe que o pior já passou. Só agradecer por elas estarem bem e cuidar para que se recuperem totalmente. Sempre estou por aqui justamente para ajudar no que eles precisarem”, relata.
Enquanto as meninas se recuperam, o pedido das famílias é por justiça. “Ele (o motorista) precisa ficar detido. Foram cinco vidas que ele quase destruiu. Nem haviam começado a atravessar a faixa de pedestre quando foram atingidas. Elas ainda se lembram de tudo o que aconteceu”, garante Glória. A neta Ana Júlia, sentada na cadeira de rodas, detalha as lembranças do dia do acidente com acenos de cabeça e palavras entrecortadas. “Era um carro branco. Estávamos na calçada”, recorda.
Investigação
Responsável pelo caso, o delegado Fernando Crisci, da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Norte), informou que o inquérito foi concluído e está a cargo da Justiça. “O autor (Francisco Manoel da Silva, 53) continua preso. Ele foi denunciado pelo MP (Ministério Público) por homicídio tentado qualificado. Na esfera policial, o que tinha para ser feito foi finalizado. Agora, é a decisão da Justiça”, explica.
A defesa de Francisco pediu a liberação da prisão preventiva do motorista. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) negou o pedido na terça-feira. “Pelo que dos autos consta, o acusado não possui habilitação para dirigir e, além disso, encontrava-se sob a influência de álcool por ocasião dos fatos, vindo a atropelar cinco crianças”, consta no documento. O texto também acrescenta que o motorista não parou o veículo para prestar socorro às vítimas.
À reportagem, o advogado de defesa do motorista, Abraão Carvalho dos Santos, falou sobre sua estratégia. “Após o laudo oficial (do Instituto de Medicina Legal), que vai dizer o quadro das crianças, poderá ser reavaliada a liberdade do Francisco. No laudo vão constar as sequelas das crianças e se estão fora de perigo. O documento deve ser entregue em dez dias e vai definir os próximos passos”, adianta.
Por CB