O médico Giovanni Quintella Bezerra pode ter estuprado mais de 30 mulheres nos partos em que trabalhou. A suspeita é da delegada da Mulher de São João de Meriti (RJ), Bárbara Lomba, uma vez que apenas no Hospital Estadual da Mãe, em Mesquita (outro município da Baixada Fluminense), ele anestesiou pelo menos 20 parturientes.
“Nós vamos investigar, fazer uma triagem, ver quais foram os procedimentos, e aí vamos aprofundando. São mais de 30, já identificados como possíveis (estupros)”, afirmou a policial.
Os investigadores apuram se nesses partos, Quintella utilizou sedação desnecessária ou excessiva — algo que, no entender de Bárbara, indicaria que as mulheres poderiam ser abusadas, uma vez que as apurações já concluíram que as parturientes eram dopadas para que a predação sexual pudesse ser consumada.
A delegada afirmou que o diretor de um hospital no qual Quintella trabalhou a procurou e se comprometeu a repassar a relação dos pacientes atendidos pelo médico. “Recebemos de 20 a 30 relatórios de pacientes do Hospital da Mãe, em Mesquita. Acredito que, aqui (em São João do Meriti), tenha trabalhado em partos. Estamos aguardando a relação dos pacientes do Hospital da Mulher. Sabemos que trabalhava lá há cerca de dois meses”, salientou.
HIV
A delegada disse, ainda, que falou ao telefone com a mulher cujo vídeo foi usado para prender o anestesista em flagrante. Segundo Barbara, a vítima chorou ao relembrar o relato de violência sexual. O marido dela, que foi retirado da sala de cirurgia por determinação de Quintella, deve ser ouvido na delegacia nos próximos dias.
“Toda essa ação criminosa é repugnante, é algo que não imaginávamos que pudesse acontecer”, indignou-se a delegada. “Ela (a vítima cuja gravação permitiu a prisão em flagrante) está muito abalada psicologicamente, mas tem condições da falar, prestar declarações”, completou.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a mulher que sofreu o abuso foi atendida por uma equipe multidisciplinar do próprio Hospital da Mulher Heloneida Studart depois do estupro. “Essa conversa aconteceu antes da alta da paciente, da terça-feira, dia 12, e foi acompanhada por familiares. A paciente recebeu todas as informações e medicações que compõem o protocolo para vítimas de violência sexual”, informou a SES em nota.
A mulher, aliás, teve de tomar o coquetel de medicamentos previstos para casos de HIV por prevenção, uma vez que não se sabe o estado da saúde sexual de Quintella.
“Ela está bem, o filho está bem. Voltou a amamentar agora, porque estava impossibilitada (em função de estar tomando o coquetel anti-HIV). É um protocolo tomar esses medicamentos nos casos de violência sexual. Eu a tranquilizei e disse que vamos terminar a investigação. Perguntei se ela estava bem, ela chorou, disse que o filho está bem”, explicou Bárbara.
Por sinal, a delegada trabalha com a possibilidade de pedir judicialmente que Quintella seja submetido ao exame de detecção de HIV — uma vez que a vítima foi obrigada a seguir o protocolo para casos de abuso sexual. “Diante da possibilidade de um outro possível crime, que seria a transmissão de moléstia, poderia haver essa possibilidade (de querer que o médico se submetesse ao exame). Só que nós temos como testar as vítimas, me parece que esses profissionais de saúde têm que ser cadastrados caso eles tenham alguma doença. Não descarto o pedido, tudo pode ser requerido judicialmente. Essas medidas invasivas podem ser pedidas desde que justificadas para que se configure um possível crime”, disse.
A delegada mais uma vez disse que Quintella praticou abuso de poder, uma vez que se aproveitava de vítimas que estavam dopadas. “Foi um abuso de poder. Ele se utilizava desta posição de que não seria suspeito. E mais abominável ainda é a vítima estar totalmente indefesa. Uma das maiores confianças que podemos depositar é na mão de um médico, ainda mais em uma cirurgia”, observou.
Por CB