Funcionários dizem estar revoltados com o descaso total da administração municipal com o SAMU
De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde), Néia Vieira, Goiânia enfrenta um caos na saúde pública, especialmente em relação ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ao Jornal Opção, funcionários -que pediram para não serem identificados por medo de retaliação- disseram que as quatro ambulâncias que são Unidades de Suporte Avançado (USA) – aquelas equipadas com UTI – estão deixando de atender por falta de médicos, apesar de estarem aptas ao trabalho. “Essas unidades não podem sair do pátio sem a presença de um médico e, pelas informações que temos, pessoas estão morrendo por falta desse atendimento”, relata.
Os funcionários denunciam que houve um descredenciamento dos médicos e, até o momento, não houve reposição pela Prefeitura de Goiânia. De acordo com o relato do funcionário, a Prefeitura pagou parte da dívida de um ano com as oficinas que prestam serviços de manutenção nas ambulâncias, contudo, a falta de profissionais é um obstáculo para que as unidades operem como necessário. “Hoje, temos sete Unidades de Suporte Básico (USB) prontas para atendimento, outras três em manutenção e mais três com o motor fundido”, sublinha. Segundo relato do servidor, o total de ambulâncias prontas para servir a população é de 11 unidades, sendo sete USB e quatro USA.
Ele destaca ainda que são repassados, somente pelo SUS, cerca de R$ 40 mil mensais para os gastos com insumos, manutenção e combustível para cada ambulância. “Esse valor é fora o que vem do município e do estado. Com a minha experiência, não se gasta nem a metade do que é repassado. A pergunta que faço é a seguinte: para onde está indo esse dinheiro, se nem as oficinas eles pagam corretamente?”, pergunta indignado.
Os funcionários dizem estar revoltados com o descaso total da administração municipal com o Samu. “Faltam técnicos de enfermagem, médicos e condutores”, atestam. Um dos trabalhadores relatou que, na manhã desta segunda-feira, 29, receberam um chamado para atestar um óbito no Balneário Meio Ponte, porém, não puderam ir por não ter médico disponível.
Retaliação
Se não bastasse o baixo quadro de condutores citado pelos funcionários, um deles denunciou que, recentemente, quatro colegas foram realocados para outros órgãos por denunciarem a situação precária do Samu à imprensa. “Se alguém falar alguma coisa aqui, é perseguido. A ordem é trabalhar caladinhos, porque se eles descobrirem quem falou, sofrerá retaliações”, diz. Ele ressalta que, quando o trabalhador fica à disposição, o salário diminui no mínimo R$ 1.000, provenientes de insalubridades e gratificação.
Ele descreve que, de acordo com todos os plantões e com o número de viaturas, o ideal para cada plantão seria, no mínimo, 25 condutores. Segundo ele, o Samu tem um total de 100 motoristas, porém, há muitos afastados, outros em desvio de função e outros em processo de aposentadoria.
Néia Vieira disse à reportagem que, em uma assembleia realizada nesta segunda-feira, 29, com trabalhadores do Samu, a informação que eles passaram é que a situação permanece a mesma. “De fato, a Prefeitura não renovou os contratos com os médicos credenciados e faltam profissionais. Também há falta de técnicos de enfermagem. Estão operando com quadro reduzido”, enfatiza.
Em relação aos condutores, Néia confirma as denúncias. “Quatro condutores realmente foram colocados à disposição e retirados do Samu. Alguns alegam que foram retirados de lá porque denunciaram as condições do Samu e estão sendo perseguidos pela prefeitura”, sublinha.
Resposta da SMS
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) respondeu que há três ambulâncias USA em atendimento, sendo que uma está estragada. No que se refere ao número ideal de condutores, a Secretaria informa que o Samu necessita de 78 condutores, já contando com o índice de afastamento, e, no momento, há 101 lotados na unidade, para um total de 17 viaturas, quatro USA e 13 USB.
De acordo com a SMS, alguns motoristas não estão aptos a dirigir, contudo, mesmo assim, o número é suficiente, pois atualmente existem apenas 10 viaturas circulando. A secretaria confirmou que, quando o condutor é lotado em outra unidade, ele perde alguns proventos por não lidar mais com insalubridade e por não atuar como condutor de urgência e emergência, que recebe gratificação específica em razão do cargo. Entretanto, a secretaria ressalta que está dentro da legislação trabalhista do SUS. A secretaria, todavia, não admitiu se há perseguição aos que denunciaram a situação do Samu.
No que diz respeito aos médicos, a pasta reforça que o Samu possui 66 profissionais, sendo 43 efetivos e 23 credenciados. Em relação aos técnicos de enfermagem, são 85 no total. Porém, 17 estão em readaptação.
Sobre a emissão de atestados de óbitos, a secretaria esclarece que quem os emite é o médico assistente ou do SVO/IML. Quanto aos médicos de outras unidades realizarem transporte, a secretaria diz que depende da extrema necessidade e é uma questão de bom senso, para salvar vidas.
Por JO