Depoimentos das vítimas poderão ser colhidos nas cidades em que elas moram. Quatro promotores e duas psicólogas ficarão trabalhando exclusivamente nas investigações.
A força-tarefa criada pelo Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) para investigar as denúncias de abuso sexual contra o médium João de Deus divulgou, nesta segunda-feira (10), um endereço de e-mail para que vítimas possam entrar em contato com o órgão. Além disso, os depoimentos delas podem ser colhidos nas cidades em que elas moram.
“Quatro promotores serão designados para os casos específicos e duas psicólogas para atenderem vítimas que queiram prestar depoimento no MP-GO. Não será necessário que venham a Goiás, podem prestar depoimento no MP local, estamos em contato com promotores do Brasil inteiro”, disse o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, Luciano Miranda Meireles.
As vítimas podem enviar os depoimentos para o e-mail denuncias@mpgo.mp.br .
“É preciso que enviem os contatos para que entremos em contato posteriormente. Só os promotores da força-tarefa vão receber o e-mail”, afirma a coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, Patricia Otoni.
Além do MP-GO, a Polícia Civil goiana também instaurou investigações, com o objetivo de identificar outras mulheres que afirmam ser vítimas e apurar a vida do médium. Conforme relatos colhidos até o último sábado (8), os abusos sexuais teriam ocorrido dentro no local desde a década de 80 até outubro do ano passado.
O jornal “O Globo”, na TV Globo e no G1 têm publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos (veja íntegra do posicionamento da defesa no fim da reportagem).
Os promotores informaram que várias mulheres já ligaram ao MP e há depoimentos agendados para terça-feira (11) em São Paulo e Minas Gerais. O de Goiás recebeu apenas ligações de vítimas de outros estados. Apesar da possibilidade de os depoimentos serem colhidos em outras cidades, a investigação ficará a cargo da promotoria de Justiça de Abadiânia, onde fica a Casa de Dom Inácio, onde João de Deus realiza os atendimentos.
A delegada Marcela Orçai, assessora de imprensa da Polícia Civil de Goiás, disse que uma força-tarefa foi instaurada para investigar o médium por violência sexual. “O que é preciso é que, além das denúncias que foram feitas, dos boletins de ocorrência, que a vítima também colabore durante os depoimentos, seja em outro estado, seja vindo a Goiás”, afirmou.
O MP-GO informou que já existiam denúncias contra João de Deus desde 2010. Em 2012, ele chegou a ser julgado por abuso sexual, mas foi inocentado por falta de provas. A promotora Gabriela Manssur, de São Paulo, conta que, depois que as denúncias foram exibidas no Conversa com Bial, já foi procurada por mais de 200 mulheres que também fazem relatos semelhantes.
“Vai ser feita uma força-tarefa para ouvir todas as mulheres e encaminhar para o Ministério Público de Goiás”, disse.
https://youtu.be/9TEJKxmcMH0
João de Deus nega acusações
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos.
“Muito enfaticamente ele nega. Ele recebe com indignação a existência dessas declarações, mas o que eu quero esclarecer, que me parece importante, é que ele tem um trabalho de mais de 40 anos naquela comunidade, atendendo a todos os brasileiros, gente de fora do país, sem nunca receber esse tipo de acusação”, disse.
Além disso, o advogado esclareceu que o padrão de João de Deus era atender a todos em grupo. “Eventualmente atendeu alguma pessoa, alguma autoridade sozinho, isso é um episódio localizado. Mas pessoas, mulheres, crianças em geral, eram atendidas coletivamente diante de um grande número de pessoas”, continuou.
Por fim, disse que o cliente vai colaborar com as investigações. “Amanhã mesmo [segunda-feira, 10] nós vamos nos dirigir às autoridades judiciárias da cidade de Abadiânia para dizer que ele está à disposição da polícia, do juiz, do Ministério Público para ser ouvido em qualquer momento”, disse.
“Achamos que tudo isso deve ser objeto de uma investigação marcada pela seriedade e nós esperamos que isso aconteça para que a verdade venha à tona”, concluiu Toron.
Por G1