Acesso a cômodo, de 3 m², ocorria por fundo falso de armário. Esmeraldas e medicamentos também foram apreendidos nesta sexta. Defesa do médium, preso suspeito de crimes sexuais e posse ilegal de arma, criticou ação.
A mala com dinheiro achada em um porão escondido em uma casa de João de Deus pela Polícia Civil de Goiás nesta sexta-feira (21) tinha R$ 1,2 milhão. O acesso ao cômodo ocorria por meio de um fundo falso em um armário. No local, também foram apreendidas esmeraldas, que ainda não foram contabilizadas pela corporação.
- Entenda os rumos da investigação
As buscas ocorreram em três endereços e foram autorizadas pelo juiz Liciomar Fernandes da Silva, do Tribunal de Justiça de Goiás, um dia antes. O magistrado também deu nova ordem de prisão contra o médium, que, agora, além de ser investigado por abuso sexual, é alvo de apurações por posse ilegal de arma.
A defesa dele, que sempre negou as acusações de crimes sexuais, criticou as novas buscas e nova prisão (veja nota abaixo). “A nova busca e apreensão foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que é inadmissível”, afirmou o advogado Alberto Toron.
A mala com dinheiro estava em um porão da casa, acessível apenas por meio de um fundo falso de armário. Uma escada conecta os andares diferentes, e o cômodo tem 3 m². Policiais informaram à TV Anhanguera que lá também foi encontrado um colchão e um cofre vazio.
Em buscas anteriores, policiais já haviam encontrado mais R$ 400 mil em moedas nacional e estrangeiras e armas na casa dele.
Situação atual
- Médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de arma;
- MP recebeu 596 relatos de abusos sexuais e identificou 255 vítimas;
- Mulheres que denunciaram João de Deus ao MP têm entre 9 e 67 anos;
- Polícia Civil colheu depoimentos de 16 mulheres. Um inquérito foi concluído e há oito em andamento;
- Em operações em endereços ligados a ele foram achadas armas, pedras preciosas e mais de R$ 1,6 milhão;
- Justiça também decretou a prisão do médium por posse ilegal de armas de fogo;
- Há relatos de supostas vítimas 15 estados brasileiros e outros seis países;
- MP e polícia também querem apurar denúncia de lavagem de dinheiro;
- Não há pedido para suspensão do funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola;
- Defesa teve dois habeas corpus negados e foi ao STF
- Mesmo que o ministro Dias Toffoli conceda o habeas corpus, João de Deus segue preso por causa do outro mandado de prisão
Investigação
João de Deus teve a prisão decretada no dia 14 de dezembro, a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que passaram a receber vários relatos de abuso sexual durante tratamento espiritual após a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus denunciar o médium no programa Conversa com Bial sete dias antes.
No dia 16, ele se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia. João de Deus prestou depoimento em seguida, durante três horas, e afirmou à Polícia Civil que, antes de as denúncias virem à tona, foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Além disso, negou os crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos dias anteriores à prisão.
O jornal “O Globo”, a TV Globo e o G1 publicaram nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.
Nota da defesa de João de Deus
1. É deplorável que profissionais da imprensa tenham acesso à decisão e os advogados do investigado, não!
2. A decretação da nova prisão preventiva, além de desnecessária, pois o investigado já está preso, se mostra inidônea porque calcada no desejo de calar o clamor público contra a impunidade. A jurisprudência de nossos tribunais é pacífica no sentido de que a prisão preventiva não se presta a punir sem processo e sem defesa. Prisão preventiva serve para tutelar os interesses cautelares do processo, coisa que não se demonstrou.
4. A nova busca e apreensão foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que é inadmissível. Mais: não se lavrou Auto de Apreensão no local como manda a lei. Portanto, a diligência é írrita.
Alberto Zacharias Toron, advogado
Por G1