Os Hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), testarão o uso de plasma sanguíneo de pacientes já recuperados da covid-19 em doentes que ainda têm a infecção. As instituições receberam no sábado o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para fazer o estudo em humanos e iniciarão nesta segunda-feira (6) triagem de possíveis doadores de plasma.
A autorização para a pesquisa brasileira veio um dia após a Food and Drugs Administration (FDA), agência de medicamentos americana, autorizar estudo similar com pacientes dos Estados Unidos.
Os cientistas acreditam que o plasma de um indivíduo em recuperação pode ajudar um paciente doente por já conter anticorpos contra a infecção. “Essa pesquisa é baseada em experiências anteriores que, há mais de cem anos, identificaram que o plasma de convalescentes podia ser útil no tratamento de pessoas ainda durante a infecção. Este conceito é denominado transferência passiva de imunidade. Se a terapia funcionar, ela poderá fornecer os anticorpos necessários para aqueles que ainda não os têm em níveis capazes de protegê-los, levando a uma melhora dos sintomas e à diminuição do vírus no organismo”, explica Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente de pesquisa do Einstein.
Poderão receber infusões de plasma dentro da pesquisa pacientes graves internados em leitos de UTI ou na unidade semi-intensiva, em um período anterior ao da intubação e que ainda não tenham apresentado nenhuma resposta imunológica durante o pico da doença.
Rizzo explicou ao Estadão que serão considerados doadores aptos pessoas que: 1) tiveram covid-19 há mais de 15 dias e há menos de 45 dias; 2) não apresentam mais sintomas, e 3) tiveram confirmação laboratorial prévia de infecção pelo vírus, mas que não apresentam mais o material genético do vírus em seu organismo.
Os possíveis doadores devem ainda apresentar anticorpos neutralizantes, moléculas capazes de combater a infecção. O protocolo brasileiro é baseado no da Universidade Johns Hopkins, que fará os estudos com plasma nos EUA.
Após a aprovação da pesquisa americana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota afirmando que estudos com plasma “têm sugerido resultados promissores, porém derivam de análises não controladas e com tamanho limitado de amostras”. Para o órgão, os estudos feitos até agora são insuficientes para comprovar a eficácia, o que requer pesquisas mais aprofundadas.