Pelo menos 19 crianças e dois adultos — um deles uma professora — morreram em um tiroteio em uma escola primária no Texas, Estados Unidos, nesta terça-feira (24/5). O atirador, de 18 anos, foi alvejado e morto por policiais.
O ataque ocorreu na escola Robb Elementary School, na cidade de Uvalde. Os alunos vitimados eram crianças com idade entre 7 e 10 anos, aproximadamente.
A KSAT-TV, afiliada à rede de TV ABC News, identificou a professora morta como Eva Mireles, que dava aula para alunos de 9 e 10 anos. A sua página no site da escola diz que ela tinha uma filha na faculdade e adorava correr e fazer caminhadas.
O atirador também pode ter matado sua própria avó no início do tiroteio, de acordo com a rede CBS, parceira da BBC nos EUA, e estava armado com um revólver, um rifle AR-15 e carregadores de alta capacidade.
Um porta-voz da polícia em Uvalde disse que o agressor “agiu sozinho neste crime hediondo”. O governador do Texas, Greg Abbott, disse que o atirador, identificado como Salvador Ramos, abandonou um veículo antes de entrar na escola para abrir fogo “de forma horrível e incompreensível”.
A agência de notícias Associated Press noticiou que um oficial da Patrulha de Fronteira dos EUA que estava nas proximidades quando o tiroteio começou se deslocou para a escola e matou o atirador, que estava atrás de uma barricada. A Patrulha da Fronteira é uma agência federal que guarda os pontos de entrada dos EUA. Uvalde, que fica a menos de 130 km da fronteira com o México, tem um posto da patrulha.
Dois agentes de fronteira teriam sido baleados em uma troca de tiros com o atirador. Um agente foi baleado na cabeça, segundo as autoridades. Ambos estão agora em condição estável no hospital.
De acordo com a CBS News, o atirador estava usando armadura corporal enquanto realizava o ataque.
O Distrito Escolar Independente Consolidado de Uvalde — a cerca de 135 quilômetros a oeste da cidade de San Antonio — afirmou à BBC que os alunos foram evacuados da escola. Pouco menos de 500 estudantes estão matriculados no colégio.
A população foi orientada a ficar longe do local enquanto a polícia investiga a cena do crime. O FBI, a polícia federal americana, se juntou às investigações.
O hospital Uvalde Memorial postou no Facebook que 13 crianças foram levadas ao hospital “por meio de ambulâncias ou ônibus”. Duas pessoas morreram ao chegar ao hospital. Uma mulher de 66 anos e uma menina de 10 anos estão em estado crítico em um hospital em San Antonio, segundo funcionários da University Health.
Em um centro comunitário em Uvalde, pais das vítimas foram informados sobre a morte de seus filhos. Alguns tiveram de fornecer amostras de DNA para ajudar a identificar algumas das vítimas.
A poucos quarteirões da escola primária, uma vigília foi realizada para as vítimas e sobreviventes do ataque.
Na vigília, a americana Karla Bohman falou sobre um amigo da sua família, cuja filha pequena estava entre os desaparecidos.
“Eles não sabem se ela está em cirurgia ou se é uma das vítimas fatais, mas eles sabem que ela é uma vítima de algum tipo porque está desaparecida”, disse Bohman. “Não consigo acreditar nisso.”
Cheryl Juhasz, moradora de Uvalde ao longo da vida, chorou silenciosamente durante a oração na vigília.
“Você não pode compreender um mal assim. Não importa onde aconteça, mas é mais difícil quando acontece na nossa casa.”
Casa Branca
O último dia de aulas para os alunos do distrito escolar estava marcado para quinta-feira (26/5). Os alunos da escola secundária local em Uvalde, uma comunidade de cerca de 16 mil habitantes, iriam se formar na sexta-feira (27/5).
Em um discurso na Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse estar “cansado” de reagir a tiroteios em massa e defendeu maior controle de armas. Ele determinou que as bandeiras da Casa Branca e de outros prédios federais dos EUA fossem colocadas em meia-haste em homenagem às vítimas de Uvalde.
“Quantas dezenas de criancinhas testemunharam o que aconteceu — viram seus amigos morrerem, como se estivessem em um campo de batalha, pelo amor de Deus”, disse ele. “Eles vão viver com isso pelo resto de suas vidas.”
Em discurso no plenário do Senado dos EUA em Washington DC na terça-feira (24/5), o senador democrata de Connecticut, Chris Murphy, fez um apelo a seus colegas para que se aprove uma legislação de controle de armas. “Isso só acontece neste país. Em nenhum outro lugar, em nenhum outro lugar, as crianças vão para a escola pensando que podem levar um tiro.”
Mas o senador republicano do Texas, Ted Cruz, se manifestou contra o controle de armas. Ele disse que restringir os direitos dos “cidadãos cumpridores da lei… não funciona. Não é eficaz. Não previne o crime”.
O tiroteio aconteceu em meio a um aumento da violência armada nos EUA, com 26 registros de ataques a escolas no ano passado, segundo a EdWeek, uma publicação especializada em educação.
Exercícios de proteção contra atiradores são uma parte comum do currículo escolar no país, no ensino fundamental e médio.
O tiroteio de 2012 na Sandy Hook Elementary School em Connecticut chocou os americanos. Vinte das 26 vítimas desse ataque, realizado por um jovem de 20 anos, tinham entre cinco e seis anos.
As armas ultrapassaram os acidentes de carro e se tornaram a principal causa de morte de crianças e adolescentes nos EUA em 2020, de acordo com dados divulgados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) no mês passado.
Na segunda-feira (23/5), um relatório do FBI revelou que os ataques por atiradores dobraram desde o início do coronavírus em 2020.
Análise de Sarah Smith, Editora de América do Norte da BBC News
Esta é uma tragédia profundamente chocante, mas nos Estados Unidos também é tristemente comum. A dor e a simpatia expressas em todo o país são genuínas. Mas ninguém está realmente surpreso que isso aconteceu.
Já foram registrados 27 tiroteios em escolas só este ano. Crianças em idade escolar até mesmo ensaiam o que fazer se um atirador entrar em sua sala de aula.
Há apenas 10 dias, dez pessoas foram mortas em um tiroteio em massa em Nova York.
Os políticos reconhecem que isso é um problema quase exclusivo dos EUA, onde as armas ultrapassaram os acidentes de carro como a principal causa de morte de crianças e adolescentes. Mas é um problema que a política parece incapaz de resolver. Visões profundamente arraigadas sobre o controle de armas não são alteradas em resposta a eventos como a tragédia em Uvalde.
“Por que continuamos deixando isso acontecer?” perguntou o presidente Biden. “Por que estamos dispostos a viver com esta carnificina?”
Mas não há sinal de que os democratas consigam aprovar uma legislação mais rígida de controle de armas. Alguns republicanos já os acusam de usar este último tiroteio em escola para promover cinicamente seus próprios objetivos políticos.
A Robb Elementary School se juntará à lista de tiroteios em escolas junto com Sandy Hook e o tiroteio em Parkland. O assassinato de crianças inocentes reacendeu o debate sobre armas nos EUA, mas o país não está mais perto de uma solução.
Por BBC