Após 51 dias de fuga, os dois presos que escaparam da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foram recapturados nesta quinta-feira em Marabá, no Pará. A caçada por Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, e Rogério da Silva Mendonça, de 36, ambos do Acre, começou na manhã da quarta-feira de cinzas, 14 de fevereiro, e seguiu até esta quinta-feira. O Ministério da Justiça informou que eles foram detidos em uma ação conjunta das Polícias Federal e Rodoviária Federal.
A dupla foi encontrada na cidade de Marabá (PA), que fica a 1.600 quilômetros de Mossoró (RN). Inquérito da Polícia Federal apontou que os dois receberam ajuda de uma rede de apoio mobilizada pelo Comando Vermelho, facção criminosa a qual eles eram filiados no Acre.
Os dois deixaram o presídio de segurança máxima por volta das 3h da madrugada, quando teriam escalado até o teto através de um buraco aberto na luminária e, em seguida, cortado uma cerca. A operação de buscas mobilizou equipes com cães, drones, helicópteros, reforços de policiamento nas fronteiras do estado e o acionamento da Interpol (Polícia Internacional).
Nos dias seguintes à fuga, foram encontrados pegadas e objetos que pertenceriam à dupla e foram usados para traçar o caminho que eles teriam percorrido. De acordo com o 2º Batalhão da Polícia Militar (2 BPM), foram localizadas duas camisas, uma rede e rastros de sapatilhas semelhantes às usadas pelos internos no presídio federal. O rastro foi encontrado nos arredores da Serra de Mossoró, que fica próxima ao Rancho da Caça, localidade onde uma casa foi furtada na manhã da véspera.
Desde que o caso veio a público, uma operação integrada envolvendo as forças de segurança federais, estaduais e até de estados vizinhos foi montada em Mossoró, no Rio Grande do Norte, com o objetivo de recuperar os foragidos. As tropas fizeram buscas na região, inclusive com uso dos helicópteros da Polícia Rodoviária Federal e do Potiguar 02, da Secretaria de Segurança Pública do estado.
A Polícia Federal investiga se houve facilitação na fuga. Já se sabe, por exemplo, que uma obra que vinha sendo realizada no presídio pode ter contribuído para a empreitada da dupla.
Rede de apoio
Durante o período em que estiveram foragidos, Deibson e Rogério teriam contado com uma rede de apoio do lado de fora do presídio. Pelo menos oito pessoas foram presas. O último a ser detido foi o mecânico Ronaildo Fernandes, que teria recebido R$ 5 mil em sua conta para repassar aos fugitivos.
Fernandes é dono da propriedade em Baraúna, na divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará, onde a dupla ficou escondida por oito dias. No local, Nascimento e Mendonça se refugiaram em uma cabana montada no meio da roça e cavaram buracos para escapar da vista de drones e helicópteros, que sobrevoam a região, que fica a cerca de 30 quilômetros do presídio. O mecânico foi preso preventivamente nesta segunda-feira sob suspeita de ter colaborado com os presos. Ele alega inocência, dizendo que foi coagido a prestar o auxílio.
A PF já havia prendido outros cinco suspeitos de ajudar os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró. Um deles é o irmão de Deibson Nascimento. Preso na última sexta-feira, no Acre, Johnney Weyd Nascimento foi condenado por roubo e participação em organização criminosa e tinha um mandado de prisão em aberto.
Além das prisões, os agentes cumpriram nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró (RN), Quixeré (CE) e Aquiraz (CE). Os investigadores desconfiam que os foragidos tenham recebido apoio de integrantes do Comando Vermelho, que atuam na região. Um carro e armamento chegaram a ser apreendidos na residência de um dos alvos.
Lewandowski voltou ao Rio Grande do Norte no dia que antecedia um mês de buscas (13 de março) para verificar como seguem as investigações do caso e declarou que há evidências de que os detentos continuam na região.
— Temos hoje convicção de que eles se encontram na região ainda. No dia 2 de março foram avistados. E no dia 12 de março (ontem) houve rastreamento positivo, que foi feito a partir da constatação de que cães de determinada casa ficaram bastante agitados — afirmou Lewandoswki.
No dia 1 de março eles invadiram um galpão e agrediram o dono da propriedade que fica em uma comunidade rural de Baraúna (RN), na divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará.
Em determinado momento das buscas, três semanas após a fuga, a polícia esteve próxima da dupla, mas fontes ligadas à investigação afirmam que a revelação dos métodos usados na caçada, fez com que os criminosos se antecipassem aos passos da polícia.
A Inteligência da PF divulgou simulações de possíveis disfarces dos criminosos. As simulações foram elaboradas por papiloscopistas do setor de Representação Facial Humana do Instituto Nacional de Identificação (INI) da PF, em Brasília.
Por O Globo