Gestores estaduais endurecem tom de críticas ao presidente da República: “sua fala dificulta o trabalho de todos, inclusive de seu ministro e técnicos”, consta em trecho do documento
Por meio de carta, secretários estaduais de Saúde manifestaram contrariedade com discurso do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) feito em pronunciamento na noite desta terça-feira (24). A grande reclamação é a de que o presidente “tem atuado para desmobilizar a sociedade brasileira”. Os signatários, entre os quais está o titular da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Ismael Alexandrino, também ressaltam no documento que a fala de Jair dificulta o trabalho de todos no enfrentamento ao coronavírus.
Os gestores estaduais avaliam que não querem politizar o tema, pois já há “dificuldades demais para enfrentar”. Os secretários ressaltaram que há um trabalho realizado independente de colorações partidárias, políticas e ideológicas. Há reclamação de que o presidente não deveria atuar para desfazer todo o esforço, negando recomendações tecnicamente embasadas e defendidas, inclusive, pelo próprio Ministério da Saúde. Eles destacaram ainda que o pronunciamento é uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira e as autoridades sanitárias de todo o país.
Na carta, os signatários ressaltaram ter preocupação com a economia do país. Mas, para eles, é preciso que se preserve a vida dos brasileiros antes de se pensar em recuperação econômica. “Vidas perdidas não serão recuperadas jamais”, consta em um trecho.
Leia abaixo a carta dos secretários estaduais
“Carta dos Secretários Estaduais de Saúde do Brasil após pronunciamento do Presidente da República
Assistimos estarrecidos ao pronunciamento em cadeia nacional do Presidente da República, Jair Bolsonaro.
É preciso demonstrar ao Brasil as suas consequências e a necessidade de que a população perceba a gravidade do momento que estamos vivendo.
Temos, juntamente com o Ministério da Saúde, os municípios e a própria sociedade brasileira, empreendido uma intensa luta no enfrentamento da Covid-19.
Luta que envolve trabalho, sacrifício, solidariedade, empatia, compaixão com o sofrimento das pessoas e que depende de maneira imprescindível do alinhamento de entendimento e de ações, assim como da união de esforços e de uma direção única e firme.
Todas as decisões e recomendações do Conass e do Ministério da Saúde têm se baseado em evidências científicas, na realidade nacional e internacional e buscado inspiração nas melhores práticas e exemplos de condutas exitosas ao redor do mundo.
É este o esforço que temos empreendido em defesa de nossa pátria e de nossos irmãos e irmãs brasileiros. É dessa forma, desassombrada e corajosa, na direção correta que queremos seguir na missão de defender nossa gente.
Não temos qualquer intenção de politizar o problema. Temos construído, sem dificuldade, independente de colorações partidárias, políticas e ideológicas, consensos para o bem do Sistema Único de Saúde – o SUS e, sobretudo com a saúde do povo brasileiro. Este é nosso compromisso. É isso que norteia nossas ações e esforços.
Já temos dificuldades demais para enfrentar.
Não podemos permitir o dissenso e a dubiedade de condução do enfrentamento à Covid-19. Assim, é preciso que seja reparado o que nos parece ser um grave erro do Presidente da República.
Ao invés de desfazer todo o esforço e sacrifício que temos feito junto com o povo brasileiro, negando todas as recomendações tecnicamente embasadas e defendidas, inclusive, pelo seu Ministério da Saúde, deveríamos ver o Presidente da República liderando a luta, contribuindo para este esforço e conduzindo a nação para onde se espera de seu principal governante: um lugar seguro para se viver, com saúde e bem estar.
Infelizmente o que vimos em seu pronunciamento foi uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira, as autoridades sanitárias de todo o país.
Sua fala dificulta o trabalho de todos, inclusive de seu ministro e técnicos.
Todo o apoio à atuação do Ministério da Saúde e sua equipe, que tem trabalhado técnica e cientificamente em todos os momentos. Com saúde não se pode brincar e nem fazer apostas, diante do risco que corremos. É preciso discernimento, coragem e determinação para liderar, unificar e auxiliar a nação a superar mais este desafio de Emergência em Saúde Pública.
Temos plena consciência de que o Brasil e o mundo irá enfrentar uma grave recessão econômica, aprofundamento das desigualdades sociais e empobrecimento.
A economia, com trabalho, disciplina, organização e espírito público, se recuperará. Seremos solidários e trabalharemos sem descanso para permitir uma rápida recuperação da nossa economia.
Mas é preciso que se entenda, vidas perdidas, não serão recuperadas jamais.
Que Deus abençoe cada um de nós que temos trabalhado intensivamente e dormido pouco.
Que Deus abençoe e proteja todos os brasileiros e brasileiras.
#ficaemcasa
Secretários de Estado da Saúde do Brasil
Por Mais Goiás
