Médico preso por não dar prioridade a delegado desabafa: “Humilhante”

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Delegado com Covid-19 deu voz de prisão após ter pedido negado pelo médico. Juiz decretou soltura dele e entendeu como abuso de autoridade

O médico preso na quinta-feira (27/1) em Cavalcante (GO), na região da Chapada dos Veadeiros, por se negar a dar atendimento prioritário a um delegado da cidade, que estava com Covid-19, desabafou após ser solto. “Foi humilhante”, diz ele.

Em entrevista ao G1, Fábio Marlon Martins França disse que se sentiu muito constrangido e que chegou a pensar em se mudar do município. O apoio que ele recebeu da população local foi o que o fez mudar de ideia.

“Eu acho que qualquer um na minha situação não aceitaria ser preso ilegalmente. Foi um excesso, foi um abuso, foi humilhante”, expressou o médico.

Fábio conta que foi preso no fim da tarde do dia 27/1 pelo delegado Alex Rodrigues, que queria ser atendido com prioridade após testar positivo para Covid-19. O médico se negou a passá-lo na frente dos demais pacientes, dizendo que seguiria a fila de espera, conforme a gravidade dos casos. A negativa, no entanto, foi o suficiente para gerar uma discussão.

Motivo alegado da prisão

O delegado voltou, mais tarde, ao posto de saúde acompanhado por agentes e deu voz de prisão ao médico. A Polícia Civil de Goiás (PCGO), em nota, alegou que o profissional havia sido preso por exercício ilegal da medicina, desacato e lesão corporal.

No relatório da prisão em flagrante, Alex Rodrigues expôs que Fábio não tem registro profissional junto ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) e que, portanto, não poderia exercer a atividade.

O médico, no entanto, é cadastrado e atua pelo programa Mais Médicos, do governo federal, que abre brecha e autoriza atendimentos nesse tipo de caso, desde que executados em postos de saúde. Ou seja: o médico estava dentro da regra de atuação.

Juiz entendeu como abuso de autoridade

Na audiência de custódia realizada um dia após a prisão, o juiz Fernando Oliveira Samuel liberou o médico e afirmou, ainda, que nada justificaria a condução coercitiva dele, no momento em que ele atendia o público. “Ao que parece, [o delegado] pode realmente ter abusado de suas funções públicas”, escreveu o magistrado na decisão.

Fábio já trabalha há cinco anos no posto de saúde de Cavalcante. “Todos têm que ser igual. Não é porque a pessoa tem um cargo melhor que vai passar por cima de pessoas que estão ali querendo atendimento, esperando sua vez. Isso eu não vou aceitar jamais. Se esse é o preço para eu cumprir, que me prenda novamente”, diz ele.

Ele revelou ter ficado com vergonha do ocorrido e só pensava, no presídio, em deixar a cidade com a família. “Fiquei com muita vergonha de tudo, não sabia como olhar para o meu povo, para a minha equipe de trabalho. Foi uma situação muito humilhante e constrangedora”, afirma.

O contrato de Fábio com o Mais Médicos tem validade até novembro deste ano. Após defender a atuação do delegado Alex Rodrigues, a PCGO informou que a Corregedoria vai acompanhar o caso.

Por Metrópoles

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