WASHINGTON e NOVA YORK – O magnata republicano Donald Trump fez História e, contra todas as previsões, alcançou delegados suficientes no Colégio Eleitoral para ser eleito o novo presidente dos Estados Unidos, derrotando a democrata Hillary Clinton, ex-secretária de Estado. Ao ser projetado vencedor pela AP em Pensilvânia e Wisconsin, bateu a marca requerida de 270 representantes no sistema distrital para ser eleito. A mera possibilidade de sua vitória derrubara o mercado futuro em Dow Jones, bolsas na Ásia na abertura do pregão pela manhã no continente, e fez o peso mexicano sofrer sua maior baixa histórica. Hillary não havia admitido abertamente a derrota até a última atualização desta matéria, mas, segundo a CNN, admitiu derrota em ligação ao republicano.
O discurso de vitória foi de união, pedindo união até com democratas que nunca o apoiaram.
— A secretária Hillary me ligou e ela nos parabenizou, e eu a parabenizei pela nossa duríssima luta. Hillary lutou duramente por muito tempo. Temos uma grande dívida com ela por seu serviço — disse ele nu mevento de vitória, em Nova York. — Agora é hora de nos unirmos como um povo só. É a hora. Prometo que serei o presidente para todos os EUA. Vamos renovar o sonho americano. Nosso país tem um tremendo potencial. Nossos homens e mulheres não serão mais esquecidos.
Ele prometeu que a infraestrutura e o respeito à população serão priorizados, antes de assumir seu típico jeito brincalhão usado em comícios.
— Vamos sonhar com coisas boas e bem-sucedidas para o nosso país — disse, antes de brincar: — Essa coisa de briga política é dura, não? — fez piada.
Ele depois elogiou e agradeceu vários apoiadores e aliados que o acompanharam durante a campanha, entre generais, políticos republicanos e o Serviço Secreto.
— Para este momento ser histórico, temos que fazê-lo dar certo. Esperamos fazer um trabalho que faça vocês tão orgulhosos. Eu amo este país. Obrigado! — disse, antes de sair ao som de “You can’t always get what you want”, dos Rolling Stones, música frequentemente tocada em seus comícios.
“Essa equipe tem muito do que se orgulhar. O que quer que aconteça esta noite, obrigada por tudo”, escreveu Hillary no Twitter, por volta da meia-noite (hora de Brasília) quando os republicanos começavam a ampliar sua vantagem na apuração.
Ao final da noite, o chefe da campanha de Hillary, John Podesta, apareceu tarde da madrugada, naquele que seria o evento de vitória, apenas para pedir ao público que fosse para casa — sem declarar derrota.
O governador de Indiana e futuro vice-presidente, Mike Pence, disse que esta foi uma noite histórica.
— É difícil para mim expressar. Sou muito grato a Deus por sua graça, minha família, minha mulher, sou profundamente grato ao povo americano por me dar essa oportunidade de servi-lo.disse, elogiando Trump: — Sua liderança e visão farão os EUA grandes de novo.
A contragosto, muitos republicanos que haviam se negado a apoiar Trump comemoraram a escolha popular.
— Uma mensagem que veio alta e clara nesta eleição é que os americanos querem progresso agora — disse o senador reeleito John McCain.
DIA DE TENSÃO
Trump votou em uma escola perto da Trump Tower, em Manhattan, sob vaias de simpatizantes da sua rival, que gritavam “Nova York te odeia!”. Com o semblante sério, o republicano votou na cabine ao lado de sua esposa, Melania. “Foi uma escolha difícil”, brincou depois. O país dividido em trincheiras opostas surgiu novamente numa ação na Justiça que o Partido Republicano deu entrada em Nevada tentando impugnar votos tidos como favoráveis aos democratas e em relatos de intimidação a eleitores em vários estados. O processo foi vetado por uma juíza.
No comitê de Hillary em Nova York, cada vitória da democrata era comemorada como se fosse uma partida de futebol, enquanto notícias positivas de Trump eram recebidas com vaias. Ao longo da noite, porém, as pessoas foram indo embora sem esperar o resultado final, à medida que a noite avançava.
O clima de apreensão foi alimentado pelos sinais desencontrados nas pesquisas, que, na reta final, ora indicavam vantagem de Hillary na votação nacional, ora davam projeções mais favoráveis a Trump nas simulações dos resultados dos estados que definem os votos do Colégio Eleitoral. Na manhã de ontem, em entrevista, ainda com as pesquisas na cabeça prevendo sua derrota, Trump se recusou a antecipar se reconheceria o resultado das eleições se lhe fossem desfavoráveis.
Na disputa pela Câmara dos Representantes, a briga pelas 435 cadeiras não indicou grandes alterações na composição da Casa. Com 129 congressistas eleitos, projeções apontavam que os republicanos devem se manter no controle. Na disputa pelo Senado, a batalha estava imprevisível, mas, ao final, os republicanos teriam perdido apenas uma cadeira, mantendo a vantagem.
Bilionário e ex-estrela de televisão, Trump, aos 70 anos, nunca havia sido eleito, mas soube interpretar como ninguém – e contra todos os prognósticos – os temores de uma classe média branca frustrada em um mundo em transformação. Tido como anti-imigrante e sexista, impulsivo e corrosivo, denunciado por várias mulheres que disseram ter sido abusadas por ele, marcou para sempre um estilo de fazer campanha política. A cúpula do Partido Republicano praticamente lhe deu as costas abertamente.
Por O Globo
(Colaborou Henrique Gomes Batista)