Quando me debruço sobre as fontes históricas buscando entender o momento que estamos vivendo agora, sempre me pergunto sobre os motivos que levam os brasileiros a serem um povo tão acovardado.
E a partir daí observo por exemplo o povo francês que sempre que se enxerga em uma situação de dissabor, promovem manifestações que, se aqui ocorressem, deixariam nossos governantes de cabelo em pé, escondidos, atônitos, desejando evaporar, pois a maioria dos problemas que vivemos atualmente parte deles e de seus desgovernos, sem um plano Brasil e sim, vários planos malfadados que nos deixaram neste caos total e absoluto.
E um desses assuntos que fizeram o povo francês ir às ruas em 2010 foi uma série de manifestações contra a reforma da previdência. La, onze dias de greves e protestos ocorreram de março até 20 de outubro.
A greve de 23 de setembro daquele ano, causou o cancelamento de mais de 50% dos voos nos aeroportos, em Paris e outras cidades. Metade das corridas dos trens de longa distância foram canceladas. Uma greve prolongada de coletores de lixo levou ao acúmulo de resíduos ao redor do porto de Marselha. Argumentando sobre este fato para elucidar sobre a situação brasileira em dois momentos distintos.
Se olharmos para um passado recente, lembramos da guerra dos caminhoneiros que buscavam dentre outras exigências melhorias no preço dos combustíveis. Nesta ocasião o que fez o brasileiro? Juntou-se ao movimento? Aprontou quebradeira? Não! Correu aos postos de combustíveis, formando filas enormes, e pagando os incríveis quase R$ 10 no litro de gasolina. Os franceses sentiriam vergonha!
Em um segundo momento, vou me referir agora a nossa situação perante a reforma da previdência. A vilã do rombo nos cofres públicos segundo o governo, porém, é importante abrir um parêntese que, quando se fala em reforma, fala-se somente em aumentar tempo de contribuição, aumentar idade para se aposentar, aumentar porcentagem de desconto do INSS, ou seja, aos trabalhadores que buscam um dia se aposentar, somente os espinhos e o gosto amargo da desilusão.
Porém, quando a situação é do lado dos privilegiados da nação, a situação não tem a mesma entonação. Filhas de militares com pensões polpudas, parlamentares aposentando com 8 anos de serviço prestado, gastos desenfreados, onde o congresso nacional chega a custar 5 bilhões anuais para os cofres públicos. Mas desse time aí, ninguém quer a reforma, mas aí me pergunto, mas o governo não vem sempre a público dizer que a reforma é necessária? Por que não dar o exemplo e começar pelos mais abastados? Por que a culpa é da dona Maria que ganha R$ 954,00?
Vamos voltar nossa ótica para outro aspecto dessa discussão. É uma grande contradição. Enquanto de um lado o governo Jair Bolsonaro mantém renúncia de empresas para com o INSS, de outro a equipe do ministro Paulo Guedes estuda como conter os gastos da Previdência Social, centrando sua preocupação maior com o pagamento de aposentadorias e pensões exatamente envolvendo INSS.
A contradição foi claramente identificada pela repórter Idiana Tomazelli, edição do dia 04 de fevereiro de 2019, no jornal O Estado de São Paulo. Se compararmos essas isenções com o déficit orçamentário da Previdência Social vamos verificar que a fração de 54 bilhões representa a quarta parte do prejuízo previsto para o Instituto desse ano. Muito contraditório não?
Existe neste pacote um verdadeiro festival de bondades onde há isenções de vários tipos. As mais altas referem-se a questões envolvendo a pecuária e o agronegócio, rivalizando com as exportações de automóveis e a desoneração para com as entidades filantrópicas consignadas como tal na Lei Orçamentária do presente exercício.
O governo Temer desonerou em 46 bilhões as obrigações previdenciárias relativas ao exercício de 2018. Agora, em 2019 o governo Bolsonaro amplia isenções na escala de 54 bilhões de reais. As entidades filantrópicas estão recebendo uma desoneração de 11 bilhões de reais. Muitas delas têm convênio na área de diversos Ministérios.
Além disso, 54 bilhões representam um montante muitíssimo superior do que a redução das aposentadorias e pensões poderá proporcionar, no caso de o Congresso aprovar a reforma da Previdência.
Então meus amigos, a partir desta singela argumentação que supra citei, pois tudo isso ocorre em nosso cotidiano, embaixo de nossos narizes, mas, ao contrário dos franceses, nós nada fazemos, não se vê levantar boneco de pato na porta da FIESP, não se ouve panelaços, nem um mínimo alarde por parte de quem vai, em uma possibilidade, morrer e não colher os louros daquilo que contribuiu para ter, no caso, sua aposentadoria.
Isso mostra o por que aqui, os privilegiados fazem a festa, pois o país que um dia foi reconhecido como república das bananas, com a inercia de seu povo está mais para ser chamado pela alcunha de república de bananas.