Desalojadas, milhares de pessoas enfrentam frio, fome e sede na Turquia e na Síria após o devastador terremoto da última segunda-feira. OMS teme uma grave crise sanitária, com doenças como o cólera, nas regiões afetadas
Após terem escapado do forte terremoto que atingiu o sudoeste da Turquia e o norte da Síria, os sobreviventes passam, agora, por momentos de grandes dificuldades e medos. Faltam comida e água nas áreas mais devastadas. Dezenas de milhares de pessoas que perderam suas casas enfrentam ainda temperaturas congelantes nas ruas, amontoadas em torno de fogueiras. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a possibilidade de uma grave crise sanitária, com doenças como o cólera, que causaria ainda mais danos que a própria catástrofe.
Mais de 96 horas após a catástrofe, especialistas temem um aumento dramático do número de mortos devido à grande quantidade de pessoas que, calculam, continuam presas nos escombros. Os balanços divulgados na noite de ontem indicavam mais de 20 mil óbitos nos dois países, superando o total de vítimas do terremoto de 2011 em Fukushima, no Japão, que provocou um tsunami, matando mais de 18,4 mil pessoas.
Nas ruas das cidades atingidas pelo tremor de terra, cenas desoladoras. Na cidade turca de Antakya, uma multidão pedia ajuda em frente a um caminhão que distribuía casacos infantis e outros suprimentos. Muitos dos que perderam seus lares estão em tendas, estádios e em outros abrigos temporários, mas são inúmeros os que dormem ao relento. “Se as pessoas não morreram por ficarem presas sob os escombros, morrerão de frio”, repetia Ahmet Tokgoz.
Com a demora da ajuda, que rende severas críticas dos turcos ao governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, vários sobreviventes foram obrigados a procurar alimentos e refúgio por conta própria. Sem equipes de resgate em vários pontos, alguns observaram impotentes os pedidos de ajuda dos parentes bloqueados nos escombros até que suas vozes não fossem mais ouvidas.
O frio agrava a situação. Na cidade turca de Gaziantep, as temperaturas caíram para -5 ºC na manhã de ontem. Apesar do frio, milhares de famílias, que perderam suas casas vivem em veículos ou barracas improvisadas. Os pais caminham com os filhos nos braços e cobertos com mantas. “Quando nos sentamos, dói. Me assusta pensar nas pessoas presas sob os escombros”, diz Melek Halici, enquanto segura sua filha de 2 anos nos braços e observava as equipes de resgate trabalharem durante a noite.
Comboio
Na Síria, já debilitada pelos 12 anos de guerra civil, a situação é ainda pior. Ontem, no quarto dia após a tragédia, o noroeste do país, controlado pelos rebeldes, recebeu o primeiro comboio de ajuda internacional através da passagem de fronteira de Bab al Hawa, a única autorizada para o envio de material a partir da Turquia.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que a entrega inclui mantas, colchões, tendas e artigos básicos de socorro para cobrir as necessidades de ao menos 5 mil pessoas. Embora tenha sido um pacote de assistência planejado desde antes do terremoto, a iniciativa foi exaltada. “Pode ser considerada uma resposta inicial das Nações Unidas e deve continuar, como nos prometeram, com comboios maiores para ajudar nossa população”, disse Mazen Alloush, funcionário do posto de passagem da fronteira.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, instou o Conselho de Segurança a autorizar a abertura de novos pontos fronteiriços entre Turquia e Síria para entregar ajuda humanitária da organização às vítimas do terremoto.
A União Europeia prepara uma conferência de doadores em março para mobilizar ajuda internacional para Síria e Turquia. “Ninguém deve ficar sozinho quando uma tragédia como essa atinge uma população”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A questão da ajuda é considerada delicada na Síria, com regiões sob controle dos rebeldes e um governo que tem a inimizade do Ocidente. O bloco europeu enviou rapidamente equipes de emergência para a Turquia, que também recebeu ajuda dos Estados Unidos, da China e dos países do Golfo, mas, inicialmente, ofereceu assistência mínima à Síria por causa das sanções contra o regime de Bashar al-Assad.
Na quarta-feira, no entanto, o governo Al-Assad solicitou formalmente ajuda a Bruxelas e a Comissão Europeia incentivou os 27 países do bloco a responder de maneira favorável, mas com vigilância para impedir o desvio de material.
Por CB